Era uma vez um país


As más notícias não cessam.

Nem é mais possível medir o tamanho da crise, uma crise econômica, política e moral jamais vista nestas terras.

Alguns ainda têm esperanças, vislumbram a bonança depois da tempestade, como se estivessem vendo uma produção hollywoodiana açucarada, uma daquelas com final feliz.

Outros já jogaram a toalha e sentem que o Brasil não é mais uma nação, mas um ajuntamento de pessoas que vivem apenas pelos seus próprios interesses, num salve-se-quem-puder no qual não existe espaço para um pingo de civilidade.

As instituições funcionam, mas trabalham não em benefício da sociedade, mas para manter os imensos privilégios de seus integrantes.


Juízes, promotores, procuradores da República, são os primeiros a zombar da lei, que deveriam, mais que ninguém, obedecer, com seus salários obscenos, que permitem um estilo de vida incompatível com o decoro dos cargos que ocupam.

Num país democrático, funcionários públicos que são, eles nunca exigiriam ser tratados, como nesta república de bananas, como semideuses intocáveis.

E onde, em todo o universo, um chefe do Executivo que todos sabem ser um ladrão, e que se cercou de meliantes iguais ou piores para o auxiliar - todos pagos, e bem pagos, com o dinheiro público - não só se mantém na função, mas destrói, com o auxílio de meios de comunicação venais e um Parlamento facinoroso, todas as conquistas civilizatórias que custaram muito sangue, suor e lágrimas?

Como se dizia tempos atrás, está tudo dominado.

Hoje são poucos os que discordam de que a presidenta Dilma Rousseff foi vítima de um golpe - branco, judiciário-parlamentar, suave, não importa a sua definição.

O pior de tudo, porém, é que esse evento, universalmente tratado como o crime mais grave que se possa cometer contra uma democracia - alguém sequer imagina, por exemplo, a repercussão e as consequências de algo similar nos Estados Unidos? -, aqui revoltou somente alguns poucos, e ninguém de poder suficiente para obstá-lo.

Além disso, um ano depois da tragédia, a não ser por raras gotas de inconformismo, parece que nada aconteceu, tal a vastidão do oceano de apatia em que se encontra o país, mesmo que o seu desmonte seja efetuado dia a dia.

Há alguma coisa errada com o brasileiro médio, algum parafuso a menos, algum problema com a sua sinpase.

Ou então ele está certo e ansioso em aceitar este novo Brasil, mais injusto, mais desigual e menos democrático que está surgindo, e todos os que tanto fizeram para torná-lo diferente, ao menos próximo de algo civilizado, têm é de se calar.

O tempo do "ame-o ou deixe-o" parece que está de volta. (Carlos Motta)

Comentários

  1. Vicente Matheus estava certo. Depois da tempestade, vem a ambulância.

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